Space satellite orbiting the blue planet

Lançadores de satélites podem criar novo posicionamento de Portugal no mundo

Aeronáutica/Aeroespacial

novas oportunidades estão a posicionar e a valorizar Portugal no contexto da indústria aeroespacial europeia, destaca o ministro da ciência, tecnologia e ensino superior, salientando a importância desta aposta para o desenvolvimento social e económico do país.

Manuel Heitor, ministro da Ciência, fala da aposta no desenvolvimento da indústria aeroespacial em Portugal. Aponta a capacidade científica e tecnológica nacional e as competências na área da integração de sistemas como exemplo das mais-valias que o país oferece para a observação da Terra, através da integração de tecnologias do Espaço com informação local nos Oceanos e em Terra. Adicionalmente, a possibilidade da criação de um porto para o lançamento de pequenos satélites na Ilha de Santa Maria surge como uma grande oportunidade para a Europa e para o país.

Qual a importância da exploração espacial para o desenvolvimento social e económico?

O Espaço e o desenvolvimento das tecnologias que lhe estão associadas, ou que dele derivam, são hoje reconhecidas como desígnio nacional por várias nações, representando um imperativo para a promoção do progresso social e económico de um país e para a segurança internacional.

A segurança e o bem-estar da sociedade dependem cada vez mais da informação e dos serviços prestados a partir do Espaço, sendo de assinalar a transferência de competências adquiridas entre este setor e outros como a agricultura, as pescas, a monitorização de infraestruturas, o desenvolvimento urbano, a defesa e a segurança e mesmo a saúde pública e monitoração de epidemias, entre outros.

Associamos o Espaço à ideia de conquista de algo maior. É uma fonte de inspiração?

O Espaço deve ser encarado como um bem público, a associar às nossas instituições e ambições coletivas, sendo crítico continuar a democratizar o acesso.

É neste âmbito que as tecnologias espaciais são incontornáveis para o futuro da Humanidade, requerendo continuar o investimento na educação e cultura para o Espaço, atraindo cada vez mais as futuras gerações de cientistas, engenheiros e empreendedores e levando a população em geral a interessar-se por disciplinas nas áreas das ciências, tecnologias, engenharias e matemática. Assim como promover o Espaço para a educação e cultura, estimulando a difusão de conteúdos educacionais, científicos e culturais a populações em áreas remotas e com difíceis formas de interligação.

As tecnologias espaciais podem assim ser um instrumento através do qual, desejavelmente, é possível capacitar o Mundo para a Paz.

satellite dish on the roof thailand

Portugal tem o desafio de instalar uma nova geração de lançadores de satélites ambientalmente sustentáveis.

O país tem acompanhado a evolução da tecnologia espacial?

É essencial continuar a apoiar o crescimento do setor espacial. Vinte anos depois da adesão à Agência Espacial Europeia (European Space Agency, ESA), Portugal é hoje considerado um caso de sucesso pela rápida adaptação e integração nos programas espaciais. A análise da OCDE ao retorno do investimento de Portugal na ESA aponta para um efeito multiplicador entre 4 e 5 do financiamento público de atividades de I&D.

Esta evolução é fruto do esforço de instituições científicas e de empresas no desenvolvimento de aptidões e competências em diversas áreas, incluindo telecomunicações, sistemas cibernéticos, realidade aumentada, observação da Terra, sistemas de navegação, exploração espacial e tecnologia de lançadores, entre muitos outros subdomínios.

Que esforços estão a ser desenvolvidos para estimular a indústria espacial portuguesa?

Sublinho a estratégia “Portugal Space 2030”, aprovada pelo Governo em fevereiro 2018 com a ambição de multiplicar por dez o volume de atividades e faturação em Portugal na área do Espaço, naturalmente no âmbito e em articulação com a “Estratégia de Inovação para Portugal 2018-2030”, a qual tem por ambição convergir efetivamente para a Europa até 2030 e atingir um nível de investimento em I&D de 3% do PIB, criando cerca de 25 mil empregos qualificados no período.

A necessidade de estimular novos mercados, públicos e privados, em Portugal, implica desenvolver projetos-piloto de relevância internacional e um contexto demonstrador em setores diversificados, incluindo a agricultura, as pescas, a monitorização de grandes infraestruturas, o desenvolvimento urbano, a defesa e a segurança.

Space satellite orbiting the earth. Elements of this image furnished by NASA.

SAGRES SMART

Suporte inteligente para prospeção geológica no fundo do mar baseada em recursos espaciais

O ISQ está a desenvolver o projeto SAGRES, baseado em serviços de deteção remota e em big data analytics, que recolhe informação de satélites de observação da terra da Agência Espacial Europeia (ESA).
O objetivo é desenvolver e implementar um serviço de consultoria web, baseado numa plataforma de suporte à decisão (PSD) que combina dados de observação da Terra de diversas fontes (OE) com inteligência artificial / Machine Learning (AI / ML) para melhorar a prospeção e exploração com vantagens para a indústria de exploração mineira em alto mar (DSM).
Este projeto inclui novas áreas de competência para o ISQ, que vão desde o conhecimento da instrumentação embarcada em satélites, sistemas de informação geográfica e big data analytics, bem como competências base em geologia e oceanografia.
O ISQ neste projeto tem o apoio da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC).

Como está a ser implementada essa estratégia?

A implementação da estratégia “Portugal Space 2030” inclui três instrumentos complementares: um novo regime legal, através da “Lei do Espaço” aprovada em 2018; a criação de uma agência espacial, “Portugal Space”, instalada em Março 2019; e o desenvolvimento continuado e em curso de uma estratégia de atração de investimento direto estrangeiro.

Em particular, o setor das “Novas Indústrias do Espaço” (“New Space Industries”, ou “New Space”) considera uma nova vaga de atores e de modelos de negócio no setor espacial a nível internacional, caracterizados pela capacidade de atrair financiamento privado, tendo em vista mercados predominantemente comerciais e que necessitam de sistemas de comunicação e informação baseados em mega-constelações de micro e nanosatélites.

Que oportunidades se abrem para o País?

O “New Space” abre novas oportunidades para Portugal, assim como outros países de média e pequena dimensão, designadamente ao nível da produção e utilização de dados, baseados em plataformas tecnológicas específicas dedicadas à observação da Terra para atividades sociais e económicas e ao nível de geração de dados e infraestruturas.

Inclui a necessidade e o desafio do desenvolvimento e produção de satélites, principalmente micro e nano-satélites, e o desenvolvimento de mega-constelações, com desenvolvimentos esperados para democratizar o acesso a órbitas de baixa altitude e sincronizadas com o sol.

Os Açores têm-se distinguido como local de excelência para a instalação de observatórios. Vão surgir novos projetos?

O desenvolvimento e promoção da agenda “Interações Atlânticas” e do Centro Internacional de Investigação do
Atlântico (“AIR Center – Atlantic International Research Center”) inclui a instalação de um centro de observação da
Terra na Ilha Terceira, em articulação com a ESA.

Lembro também o lançamento do programa “Azores Intenational Satellite Launch Programme – Azores ISLP” e dos procedimentos para a instalação e operação de uma infraestrutura espacial para o lançamento de mini e micro satélites na Região Autónoma dos Açores.

A sua localização em território da União Europeia, no Espaço Schengen, tão perto da Europa Continental como do continente americano e com uma extensa cobertura oceânica em mais de 1500 km em qualquer direção, proporciona vantagens absolutamente únicas, especialmente através do reforço em curso das infraestruturas de monitorização de satélites (i.e., antenas) e, sobretudo, a instalação de novos serviços de lançamento de satélites, incluindo o potencial para a instalação de um porto espacial.

Poderemos ter lançamento de satélites no arquipélago?

O desafio passa necessariamente por estimular uma nova geração de lançadores em termos de segurança e impacto ambiental, assim como garantir a instalação inédita ao nível mundial de um porto espacial aberto a todos os atores e operadores internacionais. Por outras palavras, a instalação de uma nova geração de serviços de lançadores de satélites ambientalmente sustentáveis e seguros, aberto ao mundo, pode criar um novo posicionamento de Portugal no mundo.

A competição crescente a nível internacional neste contexto tem emergido de forma acelerada, designadamente através do Reino Unido e países nórdicos, exigindo uma nova estratégia no processo de valorização do posicionamento Atlântico de Portugal e das oportunidades efetivas que os Açores apresentam neste âmbito. Facilita, em particular, a instalação de infraestruturas de observação e medida num espectro não alcançável ou replicável em nenhum outro país, o que representa uma efetiva vantagem comparativa.

Portugal pode ganhar um papel de destaque no mapa da exploração espacial?

É importante continuar a promoção de Portugal no mundo, com o reforço de parcerias internacionais através do
Programa “Go Portugal – Global Science and Technology Partnerships Portugal”.

O prestígio nacional já alcançado exige que Portugal, num futuro próximo, se posicione como uma verdadeira nação e sociedade do conhecimento, inovadora, com capacidade de assumir os novos desafios nas fronteiras da produção e difusão do conhecimento, tendo o Espaço um papel absolutamente fundadamente nesta área.

Tal é, aliás, imperativo para um país que se procura afirmar no cenário internacional pela ciência e inovação.

O Espaço pode ser a alavanca para o desenvolvimento tecnológico do país?

A agenda nacional “Portugal Espaço 2030” mobiliza diversos setores da sociedade para o Espaço, valorizado como um bem público, potenciando novas oportunidades de cooperação institucional, industrial e internacional e contribui para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras e competitivas no mercado internacional.

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MANUEL HEITOR

Com um sólida carreira académica, o atual ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior assumiu funções políticas depois de ter cimentado o seu lugar na academia.
Foi Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, dos XVII e XVIII Governos, entre março de 2005 e junho de 2011, altura em que se empenhou no aumento do financiamento público e privado para atividades de ciência e tecnologia e na reforma e modernização do ensino superior. Nessa primeira experiência governativa, a sua ação visou atrair a Portugal consórcios internacionais em investigação e formação avançada, envolvendo universidades portuguesas e norte americanas.
Mas foi no meio académico que Manuel Heitor, nascido em Lisboa em 1958, começou por mostrar a sua aptidão para a ciência. Professor universitário de carreira, é catedrático no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Completou a sua formação com um doutoramento no Imperial College de Londres, na área de Engenharia Mecânica (Combustão Experimental), em 1985, e um pós-doutoramento na Universidade da Califórnia, em San Diego, no ano seguinte. De regresso a Portugal, ingressou no Instituto Superior Técnico em Lisboa, onde começou por fazer investigação na área de Mecânica de Fluídos e Combustão Experimental.
Fundador de um centro de estudos em gestão de tecnologia distinguido internacionalmente, Manuel Heitor é Research Fellow da Universidade do Texas, em Austin, EUA. Recentemente, tem estado envolvido na promoção da rede europeia “step4EU, science, technology, education and policy for Europe”, assim como no estabelecimento do Observatório Internacional de Políticas Globais para a Exploração do Atlântico, OIPG.

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Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

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