À conversa com…Alexandra Costa
Considera-se “uma sortuda” por conseguir criar um meio-termo entre a complexidade da química e a simplicidade da física. Os bons resultados transparecem na sensação “incrível” de ajudar os clientes.
Qual é a memória mais antiga no ISQ?
O meu primeiro dia foi inédito. A pessoa que me recrutou chegava da licença de paternidade nesse dia. Esperei bastante na recepção. Pensava: “Será que se arrependeram?”. Não conhecia mais ninguém. Um colega fez-me uma visita guiada pelo ISQ e, entretanto, essa pessoa chegou. Não foi praxe, foi mesmo coincidência.
Como é hoje? Há esse tempo livre para esperar?
Não há mesmo. O dia é muito cheio com a gestão de pessoas, números, clientes e padrões. Comecei como técnica para desenvolver um laboratório de analisadores de gases e hoje estou como responsável de departamento. Para manter a ligação, gosto de ir aos laboratórios e, sempre que temos um equipamento novo, fico curiosa para conhecer e experimentar.
A formação inicial vem da engenharia?
Sou licenciada em química analítica embora muitas vezes me chamem engenheira. Não faz diferença. Só é diferente. Considero-me sortuda. Conheço a complexidade da química. Desde que estou ligada à metrologia conheço também a simplicidade da física, onde é tudo “preto no branco”. Isso permite-me ficar no meio – descomplico o meu lado químico de querer saber tudo e junto-lhe a física, mais simples, que avalia as coisas como um todo.
Como é que convivem esses dois estilos?
Na química temos que fazer seis, oito ensaios para uma validação. Na física faz-se o cálculo da incerteza e um ensaio de comparação e está definido. Hoje, aproveito uma parte de uma e de outra e vejo melhores resultados.
Como podemos explicar um cálculo de incertezas a uma criança?
A incerteza avalia a qualidade de uma medição através de um intervalo de “confiança” que representa a falta de conhecimento associado à medição. Por exemplo: se eu tenho 7 rebuçados e quero dividi-los entre duas crianças, vou ter que dar três rebuçados e meio a cada uma. Vamos ter que medir um rebuçado e dividi-lo ao meio. Se utilizarmos uma régua para medir o rebuçado, a divisão vai ser muito melhor do que utilizarmos apenas a nossa visão. Com a régua conseguimos quase partes iguais do rebuçado, já com a nossa visão as duas partes do rebuçado não vão ser tão iguais. A incerteza vai ser um número estimado que quantifica o que não sabemos quando fazemos uma divisão. Quanto menor for a incerteza mais exatos fomos na medição.
O que faz uma química analítica quando não está a gerir equipas de metrologistas?
Gosto de viajar. De pegar no carro e viajar sem destino. A metrologia dá-me um olhar diferente na forma como vejo as coisas. Em qualquer momento consigo ver a minha profissão. Por exemplo, na vindima em Tabuaço, de onde sou e onde adoro ir, há muita metrologia. O vinho é todo feito com medições. A qualidade do vinho é muito controlada e é preciso bons instrumentos. Aí, nunca chamo metrologia ao que digo, porque as pessoas ficam a pensar que estou a falar da chuva… mas explico o que a minha equipa faz com um exemplo. Quando se pisa o vinho, é preciso esperar até que atinja um certo grau alcoólico. Medimos o grau de açúcar com um refratómetro para depois fazermos a repisa. Esse equipamento tem de estar bom, senão podemos estar a fazer a repisa no momento errado.
Qual foi o melhor momento destes 10 anos?
Nos clientes há vários. Sempre que fazia uma visita acontecia-me alguma coisa – ou o sapato ficava preso numa rede, ou caía-me o auricular e partia-se todo ou quase caía pela escada abaixo… A satisfação de ajudar os clientes é incrível. Têm um sentido de gratidão para connosco quando os ajudamos a resolver um problema. Estive na Argélia a fazer uma calibração e medição de um caudal de ar para uma cimenteira que acabou de forma inesquecível. Era um domingo, terminámos o trabalho mas os resultados não estavam de acordo com a central de controlo. Voltámos a fazer tudo de novo e quase perdíamos o avião. Cheios de pós, fomos com a roupa e as botas de trabalho para o aeroporto e só nos vestimos na casa de banho. Valeu a pena. Por fim, a minha equipa. Ela é, sem dúvida, o melhor nestes 10 anos. Tenho o prazer de trabalhar com pessoas fantásticas. Com elas o meu trabalho é muito mais agradável e desafiante.
Entrevista a Alexandra Costa, responsável do Departamento de Metrologia Física e Química do ISQ
Por Sofia Bernardo, Comunicação e Imagem do ISQ