O pequeno é o novo grande | Microssatélite INFANTE
O futuro da observação terrestre está nos satélites de pequena dimensão. Sinal disso é o INFANTE, o primeiro microssatélite totalmente desenvolvido e construído em Portugal, que estará em órbita em 2020.
Os satélites estão cada vez mais pequenos, mas também mais desenvolvidos tecnologicamente. A miniaturização e estandardização da tecnologia na indústria aeroespacial, de forma a reduzir custos, é um dos grandes desafios dos cientistas, mas não uma missão impossível. Segundo estudos, relativos a satélites a operar em órbita baixa, 95% do desempenho de grandes satélites podem ser alcançados por pequenos satélites com apenas 5% do custo ou com 70% de desempenho e 1% do custo.
O Projeto INFANTE tem como objetivo demonstrar a capacidade nacional de desenhar, construir, integrar, testar, e operar um microssatélite em órbita baixa. Envolve um investimento global de 9,2 milhões de euros nos próximos três anos e estará em órbita já em 2020. Trata-se de um projeto aprovado pela Agência Nacional de Inovação e será cofinanciado em 60% pelos fundos estruturais do programa Portugal 2020 e em 40% pelo próprio consórcio. Este projeto precursor permitirá, numa segunda fase, replicar o processo com uma constelação de 12 microssatélites com as mesmas características. Esta será a primeira rede de satélites portuguesa para observação da terra e para a criação de comunicações, com especial foco nas aplicações marítimas.
O projeto envolve a participação direta de 150 investigadores de diferentes empresas, nomeadamente, a Tekever, Active Space Technologies, Omnidea, Active Aerogels, GMV, HPS e a Spin.Works. Estão ainda envolvidos no projeto 10 centros de investigação e desenvolvimento de universidades e laboratórios de investigação de todo o país ligados à área espacial, entre os quais o ISQ, o CEIIA, FEUP, FCT-UNL, INL, IPN, IPTomar, ISR Lisboa, IT Aveiro e UBI.
Experiência do ISQ ao serviço do INFANTE
O ISQ vai liderar uma das actividades e participar em várias outras. Será o responsável pela garantia de qualidade transversal a todo o projeto, irá desenvolver um serviço de garantia da qualidade para o processo de montagem, integração e teste de microssatélites e ficará encarregue da atividade de testes de desenvolvimento de tecnologia de sistemas e testes finais ao satélite. O ISQ tem uma vasta experiência na indústria aeroespacial e aeronáutica. Esta experiência vem de mais de 10 anos a desenvolver a actividade de garantia da qualidade no Porto Espacial Europeu, na Guiana Francesa, assim como da participação em processos de desenvolvimento de tecnologia para veículos aeroespaciais, por via da realização de testes que vão da caracterização de materiais até à qualificação de sistemas e de demonstradores tecnológicos.
Um bom exemplo é o sucesso do lançamento e recuperação do veículo espacial IXV, da Agência Espacial Europeia (ESA – European Space Agency). O ISQ trabalhou durante cerca de 5 anos neste projeto, desde os testes de caracterização de materiais, testes de qualificação do sistema de proteção térmica reutilizável e garantia da qualidade durante a integração e testes finais anteriores ao lançamento. Mas não só. Os ensaios de desenvolvimento na semi-asa da Embraer, a participação na construção do maior telescópio óptico do mundo, o E-ELT (European Extremely Large Telescope), do Observatório Europeu do Sul (ESO – European Southern Observatory) são alguns outros exemplos.
Por outro lado, o ISQ tem trabalhado nas áreas de produção industrial aeronáutica, transporte aéreo, manutenção e reparação de aeronaves, exploração e construção de aeroportos, transporte espacial e também no desenvolvimento de tecnologia para quase todos estes subsectores. Razões suficientes para que as suas competências sejam postas ao serviço do projeto INFANTE.
Tecnolologia | Um satélite em forma de micro-ondas
Assumindo o formato de um paralelepípedo, os microssatélites que fazem parte do projeto INFANTE têm a dimensão de um micro-ondas (23x23x45 cm) e um peso que não vai além dos 25 kg. Trata-se de um microssatélite modular e de baixo custo, que estará na primeira linha do que se faz a nível mundial
Além disso, o projeto INFANTE vai permitir desenvolver um novo sistema de montagem, integração e testes expeditos, adaptados a pequenos satélites e a lançamentos frequentes. Este projeto é ainda complementado com um data hub que terá como função agregar, processar e disseminar informação.
Por Ana Paula Pinheiro, Comunicação e Imagem
Em Tecnologia & Qualidade, nº5, “Digitalização da Economia & Indústria 4.0”