É a Inovação “mestiça”?
Inovar, Inovar, Inovar…, tem sido esta a palavra de ordem nas últimas décadas desde que os manuais de Economia e de Gestão associaram a palavra “inovação” ao léxico dos países desenvolvidos e das economias mais dinâmicas e competitivas.
É certo que sempre se inovou. Não apenas nas sociedades modernas, mas ao longo da vida humana. De facto, a meio do Século XX, esta palavra começou a ganhar outra dimensão e outra centralidade, sobretudo na atividade empresarial. Dos primórdios de Schumpeter, depois com Peter Drucker, do famoso Manual de Oslo, passando pelo Livro Verde da Inovação da Comissão Europeia ou até pelas discussões no âmbito da OCDE em torno das Knowledge-based Economies, muitos foram os momentos marcantes dos últimos anos.
Do modelo de inovação linear, passou-se ao de inovação em cadeia, depois ao interativo para se chegar à conclusão de que a maior parte dos modelos são disruptivos e misturam várias dinâmicas, etapas, processos e interações.
Será caso para dizer que a inovação pode ser “mestiça”, “mescla” ou “amálgama”, onde se conjugam diferentes atividades, competências e interações? Fica a provocação…
“Some men see things as they are and say ‘Why?’ I dream things that never were and say ‘Why Not?’”
Nos últimos anos, foram inúmeros os fóruns que consagraram a “inovação” como “o caminho” a seguir pelas empresas que se queiram manter vivas e competitivas. De tal forma que um dos maiores projetos de inovação a nível Mundial, o reator de fusão nuclear que promete uma fonte de energia limpa e inesgotável e que poderá levar a uma alteração do paradigma energético à face da Terra, se designa precisamente de “ITER”, do latim “o caminho”.
Foi em 2001 que Steve Jobs disse a célebre frase: “Innovation distinguishes between A Leader and A Follower”, e sabemos bem o que a Apple tem significado no Mundo em termos de inovação.
Vem isto a propósito do tema que escolhemos para o 8 número da Revista do ISQ, dedicado às atividades de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico e também à Inovação.
Sendo uma das maiores infraestruturas tecnológicas portuguesas, o ISQ sempre se pautou por fazê-lo. Desde o início que o ISQ tem no seu ADN o desenvolvimento tecnológico e a inovação.
Se “vendemos” serviços à indústria e às empresas e estas, por conseguinte, estão permanentemente a inovar, não poderíamos também nós atuar
de outra forma.
O que daremos conta nas páginas da revista T&Q 8 são precisamente alguns exemplos do muito que temos feito e que estamos a fazer na área da inovação e na vanguarda tecnológica. O nosso foco é, essencialmente, criar valor,
porque a inovação só se torna efetiva se tiver valor de mercado. É isso que distingue a invenção da inovação e é essa a principal preocupação do ISQ: desenvolver soluções que tenham aplicação prática na vida das empresas e da sociedade, de tal forma que alguém esteja disposto a pagar pelas mesmas.
Diz-se na gíria da gestão que as empresas que têm um Departamento de Inovação verdadeiramente não perceberam que a mesma não pode nem deve estar “compartimentada”. A inovação só se torna efetiva, ou melhor, a empresa só adquire um estatuto de inovadora se a inovação for transversal. Isso não invalida que possa existir alguma organização neste processo e que alguns procedimentos possam estar organizados em áreas concretas que, obviamente, devem ser muito abertas e ter vasos comunicantes. Claro que, se a inovação não for assumida em toda a sua plenitude, pelo Conselho de Administração e pelas várias unidades e Colaboradores, de nada valerá ter um bonito Departamento de I&D ou Inovação
e dar-lhe até um generoso orçamento…
Sim. No ISQ também temos uma Direcção de I&DI, mas a inovação é encarada como uma atividade totalmente transversal e, sobretudo, com enfoque nos serviços que prestamos. Há inovação desde a ponta dos dedos do técnico
com a atividade mais focada e em áreas específicas, até processos robustos de engenharia ou na área da qualificação de pessoas, criação de competências ou soft-skills.
Só em termos de atividades específicas de investigação e desenvolvimento tecnológico, estamos atualmente envolvidos num total de 59 projetos plurianuais, que totalizam um valor global de 123 milhões de euros, dos quais o ISQ investe 11 milhões. Estes projetos, em áreas como Aeronáutica, Aeroespacial, Agricultura, Economia Circular, Aditive Manufacturing, Indústria Automóvel, Nanomateriais e Segurança, Indústria 4.0, Formação e Capacitação de Recursos Humanos, envolvem mais de 77 colaboradores, que todos os dias dão o melhor de si para colocar soluções inovadoras ao serviço da economia e da sociedade.
Temos ainda uma Unidade de I&D reconhecida formalmente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e fomos recentemente reconhecidos pela Agência Nacional de Inovação como Centro de Interface.
De tudo isto, é interessante recordar a célebre frase do dramaturgo irlandês George Bernard Shaw, vencedor do Prémio Nobel da Literatura: “Some men see things as they are and say ‘Why?’ I dream things that never were and say ‘Why Not?’”.